I
Não vivo, em mim.
Viver é estar presente,
Não é ser engano, assim,
Simpatia que mente.
Sorrisos amarelados
Com a podridão do dia,
Mil folhas desfolhados
Em resmas de poesia.
II
Sou vazio, como o ar,
Bebo do tédio onde vogo,
Longe na calmia do mar,
Onde, apesar de caído,
Não me afogo.
E esta dor abrasadora,
Faz-me só, eu sofrer,
Como o pó que evapora
De uma fogueira a arder.
III
Dizer o que sinto, agora,
É difícil, pois já passou
O tempo, o dia, a hora
Que o meu pensamento levou.
Esperanças vividas
Sonhos de aluguer
Ideias gastas e batidas
Em versos que ninguém quer.
IV
Primeiro vem a Alma,
No poeta, o vão sofredor.
Embora toda ela calma,
Todo ele é dor.
Depois vem o Ser,
Dividido pela Razão,
Repartida no saber
E no sentir do coração.
O Eu fica no fim
Sem esp’rança ou vontade...
Todos os três vivem em mim
E eu sou nada pela metade.
V
Perdi tudo, nada
Tenho a ganhar...
Deito por terra a minha espada,
Farto que estou de lutar!
Tenho sede, dá-me de beber!
Dá-me, dessa água tão pura...
Morra eu p’ra ver-me nascer
Na perda que é a minha procura!
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