30/09/2010

Como me senti, outrora.

Já  me senti maior, gigante,
Outrora quando a vida sorria...
Hoje ‘stou, cada vez mais, distante
Desse ser que em mim vivia

Já fui completo mas a vida
Dá tantas voltas à madrugada
Que, antes de encontrar guarida,
Já a solidão era a alvorada

Destas manhãs cinzentas, iguais
À chuva constante na janela...
Cada gota é sempre algo mais
Do que a natureza nos revela.

Como uma lágrima cristalina
E límpida, não nos diz por que vem:
Alegria, tristeza, dor que desatina?
E qual é o significado que tem?

29/09/2010

noventa e nove...

Cem.
Parabéns à República Portuguesa que está prestes a realizar 100 anos. 
Começam hoje as iniciativas abertas ao público relativas à comemoração do centenário da implantação da República em Portugal.

noticias do mundo

Chegado ao quarto de hotel em final de dia a primeira coisa que fiz após descalçar os sapatos foi ligar a televisão. De todos os canais estrangeiros à disposição, o primeiro que maior interesse me despertou foi a BBC. Logo por coincidência uma das notícias do dia trata a derrapagem da dívida pública da Irlanda e de Portugal.

Quanto a Portugal, o título fala sobre a intervenção pela parte do Presidente da República no sentido de gerar um consenso que leve à aprovação do Orçamento de Estado para 2011 e a recusa do maior partido da oposição devido ao consequente  aumento de impostos ocorrente dessa aprovação.

Estes três minutos de informação levaram-me a pensar no seguinte:

1) Que em Portugal a política se faz como as crianças brincam ao faz de conta - para determinados grupos políticos/ personalidades parece estar tudo bem  (sim, estou a falar do modo como a oposição trata assuntos de maior importância, como o OE) e passa-se o tempo apenas a pensar no voto do eleitorado, nas sondagens e nas próximas eleições.

2)  Se a curto prazo não houver cortes e exigências onde devem ser feitos, doa a quem doer,  a fonte de rendimentos do Estado Português vai esgotar do lado de cá (sim, uma crítica ao modo como este e os anteriores Governos não foram capazes de reduzir os jobs e limitar certas regalias (do género das Aguas de Portugal). Do outro lado, a nível Europeu, já estão quase todos os países a fazer contas aos trocos que trazem no bolso. Afinal quem é que quer continuar a injectar dinheiro num buraco negro (refiro-me ao termo usado em física e não ao outro de duas letras) como seja a economia da Irlanda e a de Portugal?

3) Que em Portugal se esquece o real valor do que está em causa: que a crise não passou, está a passar e até que passe vai ficar. 
E a crise não é só para os Portugueses. Veja-se o caso do motor da economia Europeia, a Alemanha-  os cerca de 6,7 milhões de Alemães que recebem o subsídio de integração Hartz4 (semelhante ao subsídio de desemprego, embora noutros moldes) tiveram ontem a notícia de que irão receber por mês mais cinco euros do que até agora (caso o diploma seja aprovado)  num total de cerca de 364 euros. 
Tirando os casos daqueles que se decidiram por não trabalhar e sobreviver à custa desse subsídio, existem nesta desenvolvida economia milhares de pessoas com habilitações e conhecimento mas sem trabalho. No entanto a economia germânica não pára e mais tarde ou mais cedo essas pessoas com conhecimentos irão ser integradas novamente. 

4) Que em vez de se falar sobre Políticas que interessem ao desenvolvimento económico e social do país, vieram apresentar propostas fora de tempo sobre as alterações profundas à constituição portuguesa (sim, estou a falar da irresponsabilidade crua de Pedros Passos Coelho). Em que planeta é que este senhor e os seus correlegionários estão a viver? Porquê criar ruído sobre temas acessórios e criar mais receios ainda no seio de um clima de crise????? 
Quer acabar com o ensino gratuito, com a saúde como está? A base da economia são os Recursos Humanos, vamos então falar de Educação e sobre formação, criar ferramentas, apostar nos recursos existentes; vamos falar de conceitos sociais básicos como a Saúde, reforçar o sistema do Serviço Nacional de Saúde em vez de falar em privatização - porquê fragmentar? Se não funciona como está, provem-no com factos, argumentos e números que tenham fundamentos sólidos. Se for apenas para servir à classe médica e criar mais um "ponto verde" para a recolha de dinheiros públicos, então suponho que tenham em vista o interesse próprio, em vez do interesse nacional. A "coisa" é grave e tem poucos remédios... Uma acção possível seria deixar de legislar à medida de cada cliente...

5) Que em Portugal se fala sem se pensar - a classe política deveria ter mais cuidado na forma como lida com os Media pois parece que há falta de trabalho de bastidores para se chegar a consensos.

6) Outra notícia, ainda na BBC, em primeira mão, logo pelas seis e pouco da manhã de 28 de Setembro. Na Rússia, o presidente Medvedev (espero ter escrito correctamente) acaba de demitir o Presidente da Câmara da cidade de Moscovo, Luzhkow, por perda de confiança política e - segundo ouvi - também, pelo crescimento dos casos de corrupção na cidade. 
Desconhecendo os contornos que envolvem a decisão, escuso-me a alargar-me nos comentários. No entanto, isto deixa-me a pensar que também em Portugal se deveriam tirar consequências de casos de corrupção provada - activa ou passiva. Era tempo de começar a cortar o mal pela raiz...Falta a coragem, infelizmente.



25/09/2010

To Milady




Now Milady,
That I have to go
I trust you my soul,
My heart and please know

That wherever I will be,
Whatever I will do
Here I promise upon my knees
That all my thoughts will be with you.

Dear Lady, my time has come.
This is my last crusade.
I shall return in glory if I live,
In thoughts, if away I fade.

And if death I defy
May I be stronger to resist.
If not, here I say goodbye,
See you in Heaven, for God exists





(...ahhhh.... o amor platónico já não é o que era...)

23/09/2010

A importância das pessoas

A noite estava fria, traiçoeira,
Segura apenas pela luz escurecida
De uma lua perdida, inteira,
Nas trevas da própria vida.

O céu não se deixa ler
Por se importar em demasia consigo.
A noite transborda-lhe o Ser...
Será que ele ainda consegue ver
O seu próprio umbigo?

Ah, a barriga cresceu?!!?

22/09/2010

De volta às ruas que me viram crescer vou andando sem ideia de onde me leva a tarde. Como quem lê um jornal enquanto vai andando, vou eu descendo a rua a pensar no passado. Subitamente descubro-me num beco - como é que aqui vim parar? Arrepiei caminho. 
Estas ruas são uma sombra daquilo que foram há anos. Acho que apenas o sorriso na face de velhos amigos guardam o calor que tanta falta faz neste fim de dia. 
Abro a velha porta que me separa da sala de entrada, acendo a luz e deixo-me cair no sofá. Amanha, é outro dia...

“Exaltação de”



Ah! Haja vida latente
Nas palavras sóbrias
Que embebedam tanta gente!
Nos versos e nos poemas
Também, nas palavras infernais,
Nas feridas e nos edemas
Que nos tornam a todos iguais!
No sangue, na vida, na devoção,
Em tudo aquilo que se sente,
Mártir, espírito, Ser, Razão,
Saber que sei ser diferente!

Haja um sonho a cada manhã,
Tão leve como as ondas do mar...
Haja esperança em cada alma sã
Que abruptamente se deixe levar
Pela ira do destino que se segue
Ao dia, à noite, ao amanhecer!
Ao sono, ao sonho e à vigília,
À desforra de poder dizer:
EU AMEI!! EU... amei!
Puro, como branco malmequer
Que eu fiz derramar
Por este sentir, dizer,
A palavra, a ti, amor, amar!

Mancho estes versos da culpa
Que assumo total como minha!
O meu amor não terá A desculpa
Por estas palavras que minh’alma definha!
Nem eu, já, tampouco...
Todos me consideram louco.
Pois que considerem, julguem e CONDENEM!
À forca, pela força, à morte,
À prisão perpétua desta maldita sina
Que me dilacera profundamente
Mas a qual refina a dor, ou o amor,
Que me torna mais forte!!

21/09/2010

Inferências







I
Não sofrer é ser completo.
Mas ninguém é completo.
Todo o alguém sofre
Por causa de algo que o não completa.

Como a bola da roleta
Gira, gira, á volta do nada,
Até que se descobre num espaço
Completa em si, mas incompleta nos outros.

Tal como a bola da roleta
Ou como as Calhas da Razão,
Giro à volta de um vazio
Que não é mais que o meu coração.



II

Sou assim, tão só
Em mim, como pedra
Se desfaz em areia
Lenta e se torna pó.

E a roda gira
Continuando a moer
As palavras de pedra
Em pó,
Razão hão-de ser.



III

A roda parou,
Acabou de moer.
As palavras de pedra
São pó,
Razão, de ser.

20/09/2010

À procura de mim

                                               I

Não vivo, em mim.
Viver é estar presente,
Não é ser engano, assim,
Simpatia que mente.

Sorrisos amarelados
Com a podridão do dia,
Mil folhas desfolhados
Em resmas de poesia.

                                               II
Sou vazio, como o ar,
Bebo do tédio onde vogo,
Longe na calmia do mar,
Onde, apesar de caído,
Não me afogo.

E esta dor abrasadora,
Faz-me só, eu sofrer,
Como o pó que evapora
De uma fogueira a arder.


                                               III


Dizer o que sinto, agora,
É difícil, pois já passou
O tempo, o dia, a hora
Que o meu pensamento levou.

Esperanças vividas
Sonhos de aluguer
Ideias gastas e batidas
Em versos que ninguém quer.

                                               IV

Primeiro vem a Alma,
No poeta, o vão sofredor.
Embora toda ela calma,
Todo ele é dor.

Depois vem o Ser,
Dividido pela Razão,
Repartida no saber
E no sentir do coração.

O Eu fica no fim
Sem esp’rança ou vontade...
Todos os três vivem em mim
E eu sou nada pela metade.

                                               V

Perdi tudo, nada
Tenho a ganhar...
Deito por terra a minha espada,
Farto que estou de lutar!

Tenho sede, dá-me de beber!
Dá-me, dessa água tão pura...
Morra eu p’ra ver-me nascer
Na perda que é a minha procura!

19/09/2010

Sou doente de ser


Sou doente de ser
Triste na dor que tem
O coração triste de alguém
Que me tem em si a nascer

Como o fruto da videira
Que se apanha, se pisa e se bebe:
O néctar de uma vida inteira
Sabe bem mas não mata a sede.

E a peça que cai da algibeira
É a moeda mais pequena de ser.
Planta-a aqui à minha beira.
Vamos esperar vê-la nascer.

O copo que se enche ao cair
De cada golo afundado
É sóbrio ao se sentir
Sob sete palmos de terra acachado

Ébrio... Não, não se diz
Aquilo que se pensa, assim! 
Estou tão sóbrio, em mim,
Mas doente de não ser feliz.

Perco o sinal à dor,
Estou rude cansado
De ser o mesmo pagador
Que deixa o calote pendurado

No único cabide que tem em casa:
O da roupa suja- nunca tem nada.

18/09/2010

Não Me Digam Nada!!!

Não Me Digam Nada!!!

Uma farsa, é o que é!
O raio de uma trapaça
Que uma vez posta em cena
Mal se tem de pé!
Não tem pernas p’ra andar,
Não tem voz p’ra se ouvir!
Mais um mono p’ra carregar,
Mais um um churrilho d’ asneirada amena...
É uma Porra, é o que é!!!


(doze anos depois, esqueci a razão de ter estado tão furioso, no entanto, ao ler o que escrevi só consigo pensar na farsa do PAOLP)

17/09/2010

O mar que a Terra tem

O mar que a terra tem
De tão minha quanto eu quis,
É tão vasto, em si, também,
Como a língua do meu país

Os portos que atracam essas velas,
Esses cais que aportam o meu ser,
São palavras ou luzentes estrelas
Transbordando o anoitecer

Pelas praias caladas e nuas...
Tais jovens donzelas,
Procurando suas luas...

O sorriso de uma lágrima de sal
Não traz sentido de não querer,
É antes o ouro do extenso areal
Das palavras, dos verbos, de poder!

Sobre O Mar que a Terra Tem

O Mar que a Terra Tem. O poema foi escrito há anos, no entanto, quando o releio aos olhos dos nossos dias apenas me apetece dizer o quanto eu gosto da Língua Portuguesa e do Português de Portugal! Abaixo, por isso, o Pantomineiro Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, abaixo o PAOLP!

Querem destruir o legado de séculos de experiência e de saber vivido, em nome de uma fusão  impossível entre  língua Portuguesa de Portugal e a do Brasil. Querem fazer-nos esquecer que cada país tem uma matriz única derivada da sua história, dos seus costumes, etc, etc, etc, mas que não pode nem deve ser tomada como igual à outra apenas porque a base é o Português. 





Que fique assente que eu não falo, nem quero falar, pensar, escrever Português do Brasil apenas porque uma Manada de pseudo-intelectuais deseja, sem argumentação científica e por motivos económicos - que outros? - tirar partido destas miscelâneas surrealistas!


Se bem que todas as línguas estão em constante evolução, essa evolução não deve ser feita por imposição nem à revelia de quem as usa, muito antes pelo contrário! 





Neste momento, entre os poucos que seguem este PAOLP devem estar aqueles que escrevem para um grupo ao qual pertence determinado jornal semanário que dizem sair de expresso mas deve ser mais de camioneta sem inspecção técnica e com os quatro piscas fundidos, porque para além da baixa qualidade jornalística quando cá chega vem a falar mal e a dizer que "adotaram" o Acordo Ortográfico... 


Um à parte,  cada vez que leio notícias escritas pela Lusa fico cheio de azia, não há Kompensão que me alivie e só me vem à lembrança o verso de Almada Negreiros "BASTA PUM BASTA!" mas afinal não há quem veja o Dantas morrer! 


Claro que os outros que também agradecem são os que lêem o dito jornal, filhos de uma geração que deixou de ser rasca para passar a ser preguiçosa, a ler e a escrever, plena de analfabetos funcionais que tratam mal a língua portuguesa e que subscrevem tais Acordos. 




No fundo é essa a geração que se está literalmente a borrifar para o progresso do país e, ainda pior,  para as gerações vindouras, já que é nela que se enquadram professores e educadores que ensinam e servem de exemplo os nossos filhos! Ai!!!!!! Já estou marcado por eles! He, he, he! Mas agora a sério, perguntem lá ao menino Carlinhos quanto são oito vezes sete ou à menina Anocas se já ouviu falar de Pessoa? Ai, Não?? Então...  Assobiem para o lado e continuem a ensinar...


Ainda que existam bons profissionais, pese embora serem poucos, Portugal é um país a brincar aos senhores doutores, aos senhores engenheiros e aos médicos- qual classe privilegiada e intocável. 

Um jornal alemão de referência escreve um artigo com o título "Die Forscher und Künstler der Kommenden Jahre" (Os investigadores e os artistas dos anos vindouros), olhando para o estímulo das capacidades criativas e cognitivas das crianças e jovens como o ponto de partida para a criação de uma geração futura voltada para o conhecimento e para a criatividade. Observe-se então o manancial económico de um tal país e compare-se com o nosso!

Tenho uma proposta para os nossos doutos doutores e engenheiros: porque não experimentam algo de semelhante? Afinal para além de um excelente exemplo seria um excelente estímulo para aumentar as capacidades dos nossos recursos  humanos. Talvez assim se fizesse sair este país da miséria cultural em que se encontra e com isso se ganhasse  uma geração política empreendedora, com visão, estratégia e, acima de tudo, carácter! 

É verdade que nem todos gostamos de críticas mas felizmente espero que ainda haja quem saiba rir. O que é preciso não esquecer é que o mérito se ganha pelo trabalho e não tanto pelo suor, ou pelas penas judiciais que ficam por cumprir!

Acabei por me estender em pensamentos que nada têm a ver com o poema que se segue, nem com a minha admiração pelo bem mais valioso do património português. Afinal, eu só pretendia elogiar a nossa língua, o nosso Português de Portugal!

16/09/2010

Eu...

Vejo, sou, estou, em mim
Há um novo mundo por descobrir
Tão “livre e plural” (“como o universo”)
Um futuro ainda por vir

Descobri-me outra pessoa
Lonjura eterna de um mar por porvir
Águia suprema que não voa
Infinitude do verbo finir

15/09/2010

À luz da lua

Quando a lua ilumina
As ruas da noite devagar
Solta-se no ar a poesia
De um alguém que quer amar

Vagueando na solidão
Perde-se nos becos do pensamento
Procurando pela Razão
Lá longe, no firmamento.

Correndo montes e descampados
Procurou por uma ilusão
Até que os sonhos iluminados
Resolveram dar-lhe a mão

E então acendeu-se
Uma estrela por um momento;
O sonho era a verdade
Que trazia no pensamento.

14/09/2010

Até amanhã, tristeza

Tristeza:

Chamo-te minha e depois mando-te embora;
Farto o silêncio e o nada com a minha presença...
Um tanto mais tarde, espero que passe a hora
Que entedia o ditar da minha sentença.

Não me perco no tempo mais calmo e vago,
Deixo-me apenas vogar ao sabor da corrente
O sentimento não é algo que escrevo e depois apago
No sentido de vir a fazer tudo diferente.

A vida que os dias têm em si guardados
Rejubila no passar de cada momento-fracção,
Perdendo-se no imenso fado de todos os fados
Algures no sentimento de um distante coração

Gostava de sentir um sentir completo
Como aquele que se sente quando há verdade
Nas coisas simples que nada têm de secreto
E que em si guardam espontaneidade.

A humildade de uma roseira florida
Está na força de ser: espinhosa
E bela. Não magoa a vista, deleita despida
Em sua cor mas não esconde a sua prosa...

A água que bebes e aquela com que regas
São do mesmo poço ao fundo do pomar.
Quando o dia acaba também és tu que levas
A enxada de volta à adega, p’ra arrumar.

Trabalhas tanto, o sol faz-te suar, porém,
A terra é a vida que te dá de sustento.
Quando um dia parares, ela parará também.
Nesse dia, o dia acaba e a enxada fica ao relento.

A casa que te alberga na sua simplicidade
Tem um conforto igual ao que a vida tem;
Essas paredes podem padecer da idade,
Mas a cama guarda o conforto de ter alguém

Que te espera e acolhe a toda a hora,
Por quem vives para poder também partilhar
Os momentos difíceis e os bons p’la vida fora...
Apaga a vela, agora, vá! Vai descansar!

Até amanhã...

13 de Abril de 1999

13/09/2010

Como quem conta uma história


Como quem conta uma história
já passada e quase esquecida
deixa o sonho avivar-lhe a memória
para que a recorde o resto da vida.

Como quem conta essa história
já esqueceu de se lembrar
de como era sentir a folia
de ser o primeiro a contar

essa história sobre alguém
ou algo em alto mar...
Mas já nada ou ninguém
me consegue fazer recordar

a historia de como  quem
conta como era falar
sobre algo ou alguém,
que não me lembro, em alto mar.

12/09/2010

Desabafo


(Desabafo) Ah… Os segundos!
Parecem impossíveis de aproveitar
A um por um, contudo,
Levam horas a passar.

Já o “Grande” dizia:
“Lenta e lenta a hora”!
E, assim, ainda hoje continua
Não se perde, não demora.

11/09/2010

Estado d'Alma

Estado d’Alma - Lado A

I

Abomino as drogas e a dependência
De algo que não me dá plena satisfação.
A mente, por ser livre na sua essência,
Não deveria depender do coração.

II

Quer de coração ou de mente
Sou viciado na companhia
Da pouca, mas boa, gente
Que me dá alguma alegria.

III

Continuo fraco mas sigo viagem,
A estrada da vida é o meu caminho.
Aqui serei o mesmo à minha imagem,
Um guerreiro que luta sozinho

Contra os moinhos de vento!
“Ahh, D. Quixote! Olha a estrada!
Sim, lembra sempre o momento,
Mas cuida da tua montada!”

Vais a pé se ela foge,
Não te podes deixar dormir!
Pensa bem, que dia é hoje?
Quixote? Estás-me a ouvir?

O cansaço é bera e quanto a mim
Resta-me apenas deixá-lo descansar...
Creio que o meio justifica o fim
Porque a estrada ainda vai a começar.




 Estado d’Alma - Lado B

Momento único

Cai a noite e adormeço.
Despede-me o dia e a hora.
Estou triste, perdido, confesso
Mas a vida, veja-se, é lá fora!

Ante “a vasta barataria do mundo”
Entrego a minh’alma ao momento...
Desgasta-me um sentimento profundo-
- é este amor que eu não aguento!

Eu, tal Quixote errante nessa estrada,
Vejo que aos olhos da noite desfaleço,
Ainda é longa a minha caminhada
E este fim que antevejo é só o começo...

Até amanhã!

10/09/2010

Das horas passadas

Das horas passadas
O dia chega ao fim,
De asas quebradas
Adormece-me a mim

Nos minutos ardidos
Em fogueira apagada.
Perdi os sentidos
Em minh’alma calada...

Vejo-me doente
Perder todo o tino
Sou guitarra dolente
Que choro e desafino

O meu ser mais imo
O meu sentir mais profundo
Em cada verso que rimo
Sou caravela que afundo

Neste mar em que navego
Deixo a rota ao acaso
Faço-me dormir e entrego
Meu fado à luz do ocaso

09/09/2010

Da igreja quase adormecida

Da igreja quase adormecida
Chora em vão o sino dolente
Uma lágrima (quase) esquecida
De um sentir diferente

Diferente sentir, saudade,
Memórias vagas de um lugar
Onde antes havia eternidade
Há hoje um sítio p’ra estar

Dos rogos de outrora só o vento
Murmura ainda frente ao altar
Que em tons de rude cinzento
Resiste ao tempo e teima em ficar.

Nem viv’alma. No adro em frente
Só os carvalhos, solitariamente quedos
Se fazem um pouco da gente
Que se ergue e enfrenta os seus medos.

Nas traseiras deste lado algum
Resta a memória plantada
Do que foi a vida de cada um
E que é agora terra, pó e nada.

08/09/2010

Palmas!


Fecha-se o pano ao fim
Do derradeiro acto
            E as almas que ficam
Batem palmas
            Não à peça, mas ao pacto
            Feito com a ilusão
De estar
            Num mundo à parte.
            É o fim, obrigado!

07/09/2010

Sento-me à secretária

Sento-me à secretária,
Preparo-me para escrever.
Ilumina-me o som da ária
Que ouço. Sem querer,

Perco-me na doçura leal
Da voz que me tem encantado.
Neste momento quase irreal
Toma-me um sentido animado

Que me passa a ter
E a descobrir, silente
Na melodia que, a enriquecer,
Se torna mais e mais dolente.

Estou  cada vez mais sóbrio,
Desde o Ser até ao Pensar;
Pode não parecer óbvio
Mas descubro-me a chorar!

Profundamente, consome
O meu ser distante...
Preciso de letras, tenho fome
Dessa cor, murmúrio falante;

Dos livros, almas correntes,
Presas fiéis de um viver
Rodeadas de seres inconscientes
Que se dizem capazes de ler!

Há sempre mais além
Do monte que cerra o finito...
Contemplá-lo é para quem
Sabe ler o que não está escrito.

E tanto há que, na vida,
Não há tempo para, sequer,
Pensar na alma escondida
Que trazemos em nós para ler.

Enquanto o tempo passa
Não conseguimos entender
Que o nosso viver crassa
Para as coisas que dão prazer,

Como a ária que escuto
Enquanto me preparo...
Desaprecie o belo, o Inculto,
Que a arte é o meu amparo!

Mais do que um viver,
É também um sentir.
Negá-la para a esquecer
É negar o nosso Existir!

Deixemo-nos de ilusões
Que todos sentimos o fervor
Dentro de nós, em nossos corações,
Quando a arte se torna amor!


06/09/2010

Do que sinto falta, Senhora


Sinto falta, Senhora, 
Da presença, da alegria
Que a vida antes nos dava
Na tristeza de cada dia...

Faz-me falta, Senhora,
A outra vida que levava,
Tão simples: a cada hora
Vivia. Não esperava

Ver o tempo a passar por mim,
Como agora; Estou só, Senhora!
É tão triste ser-se assim...
Sinto a sua falta e agora

Não sei bem como ser,
Senhora. Não sei bem...

Cansa-me a memória,
Cansa-me de me  perguntar
Por aquela  velha história
Que costumávamos contar...

Todos os dias eram o primeiro,
Cada momento era uma vida.
Fostes o meu amor verdadeiro...

Senhora, quão sinto
Fadiga de ter
Ninguém...


                                                                                   

05/09/2010

O meu chá de limão

I

Dói-me a cabeça
Apesar de ter bebido um chá de limão...
Talvez desapareça
O mal da ilusão.
Eu não sei se mereça
Tamanha confiança,
O mal, eu digo,
Pois já o sinto desde criança.
Mas, para já, talvez outro chá
Me aqueça a alma
E traga calma
Ao coração.

Isto, a bem dizer,
Mal me altera o conforto.
Não me aquece, nem arrefece;
E, se quiserem saber,
Se der para o torto,
Ponho os pés de fora.
Sim, digo adeus e venho-me embora,
Beber mais um chá,
Bem forte, de limão!

Pode não me afastar os problemas,
Nem os edemas do coração,
Mas, pelo menos, faz-me repousar
E alivia a dor de cabeça
Ou outra de que me esqueça...

O melhor é pensar em acabar,
Deixar a literatura para depois,
Pois também há que descansar
E acabar de apreciar
O meu chá de limão!


II

Soube-me tanto.
Tanto a tão pouco!
Já diminuiu o pranto
Mas ainda me sinto rouco.
Se as aparências iludem
Porque há-de o sol calar?
Ou a chuva brilhar?

Dêem-me uma resposta, mas não me mudem!
Se as flores florem, fazem-no porque sim!
E, sendo assim, dêem-me uma razão
Para elas o não fazerem!



III

Range-me a voz, estou tão rouco.
Talvez seja mal de solidão...
Eu já bebi, mas soube-me a pouco,
O meu chá de limão.

Prende-me a vida por um fio
Um emaranhado de nós.
A cada qual que desato alivio
A rouquidão da minha voz.
Só me afasto porque procuro
O meu ser parte de mim.
Penso, mas não descuro,
Que ser é já um fim!

Vou fazer outro chá
E bebê-lo devagar.
Pode não me confortar já.
Mas saberá bem quando o acabar.