27/04/2010

Partida

Partida.
Alguns olham-na como o fim de uma etapa mas a partida é tão somente o lugar no tempo onde tudo recomeça. Na partida está a essência da mudança porque chegar é uma opção.

23/04/2010

para onde vou

Para onde vou, onde me levam as minhas forças, até onde me deixo alcançar, é uma incógnita do tamanho do mundo, de um continente, de um mar.
Onde vou é o amanhã que não chega, é o passado que não me deixa, é uma parte de mim que não passou e nem sequer poderá chegar...
Adeus, que vou voltar, é tempo partir mas eu talvez queira ficar, não sei, se será este o meu destino, o meu lugar? Enquanto a pergunta é feita, faço-me novamente à estrada, é tempo de partir...

22/04/2010

de onde venho

Estou cansado de andar, hoje. É o vento frio que me morde a cara, a escuridão que me persegue, o sono que se apodera das minhas pernas... Nunca os pés me doeram, como me dói a alma, hoje...

Tenho de parar nem que por um instante. Sento-me silenciosamente como que receando que a noite me oiça. O único calor que trago comigo, hoje, é o teu sorriso de mulher teimosa – enquanto deixo escapar uma lágrima de saudade... não sei mais de onde venho mas sei que pertenço a algum lugar, resta-me saber se ainda existe e aonde fica...

Corri o mundo que me conheceu, conheci terras que nunca me tinham visto e vi gente que se tornou num leve murmúrio desvanecido, a memória das horas que lá ficaram há tantos quilómetros... e no entanto houve sempre algo que me fez continuar, a lembrança da tua voz que nunca deixei ficar para trás.

à beira do rio

Enquanto me perco em pensamentos, vou-me encontrando a descer por vinhas que parecem não ter fim. Fundeadas num solo autoritário, secular, representam o saber de quem as cuida a cada estação que passa. O resultado final desse trabalho, são o sabor e o aroma, únicos nesse néctar que só ganha o nome na invicta mas que nos delicia desde estas margens do Douro que já me conhecem tão bem... Chegado enfim a Peso da Régua e sem saber se vou ficar, sento-me à beira do rio, cogitando sobre a saudade dos lugares que conheço... O rio parece ficar nervoso e as nuvens a ameaçar com aguaceiros, é o Inverno gelado que me aguarda. Antes de decidir, procuro albergue e vou-me, aquecer o corpo e entregar à alma um cálice de Porto. Amanhã decido.

20/04/2010

Ironia

No outro dia falei com "Dean", o velho Dean que nunca deixou de ser jovem, o puto que cresceu porque não tinha outra opção senão brincar aos adultos quando outros jogavam à bola e à porrada. Não, ele não tinha outra escolha porque assentar um par de estalos num qualquer garoto era perder tempo, por isso ia directo ao assunto e resolvia tudo quanto podia com a razão da argumentação. Foste o advogado que nunca chegaste a ser e no entanto não perdeste com isso. Como o tempo passa e como passa por nós, Dean... Nesse dia vi que afinal não és tu que és velho, mas fui eu que envelheci, curioso, não é? Ironia...

18/04/2010

Escolhas

Há caminhos que não nos levam a lugar algum e outros que se bifurcam em direcções que nos obrigam a escolhas difíceis de tomar.

Ando há tanto tempo nesta estrada à procura de chegar cada vez mais perto de casa - o lugar onde pertenço e onde me sinto bem, porém, de quando em vez, vejo-me confrontado com decisões que, pondo em causa o que sinto, me fazem sentir como que encurralado num caminho que não tem fim, onde a solidão de caminhar pesa a cada passo que dou...

Apesar da época outonal, está calor e o sol brilha. Viro mais à esquerda e sigo caminho...

08/04/2010

À luz das estrelas

Deixo-me embalar pelo vento da serra que me cerca. Chegado há horas e, ainda que imerso em quase completa escuridão, não me canso de olhar para o imenso silêncio que há tanto me aguarda, um refrescante verde enegrecido mas reconhecível graças às estrelas que me vão indicando a estrada, seguindo lá mais para Norte...

04/04/2010

Acompanhado, enfim

Ao partir levo comigo uma agradável memória de sentidos vários, como o calor das tardes e a frescura alva das casas...
Continuo a dirigir-me mais para Norte, já me esqueci onde pertenço finalmente. Descubro-me enfim à porta de mais um canto do paraíso d'ouro que esta terra tem: à foz do Tua em princípio de tarde...
Enquanto vou escutando os carris ficando para trás, observo os montes que abrem o seu avental de verde plantado nas encostas ásperas, ajeitando-se para deixar a composição passar. Dou comigo a pensar que a nossa casa fica onde nos sentimos melhor. Vou degustando lentamente a paisagem como se de uma iguaria se tratasse: mas se a minha casa é esta terra desde o seu Norte ao Sul, a partir de Este até Oeste, então porque não me recordo simplesmente do meu lugar?
Na minha mente estou sozinho mas não viajo só, tenho o rio que me acompanha. Cá de cima do meu alto, vou dizendo adeus às casas e povoados que passam por mim em um ritmo lânguido, os sobressaltos ao passar nas pontes que ligam os montes e os túneis que escondem a proximidade do destino. Gente que entra, gente que sai, sorrisos que se espalham pelos bancos e os miúdos colados às janelas... Vou pensando, quantas memórias mais me faltam percorrer para chegar?