Dias a fio fitei nos montes a magna beleza da água cristalizada nas poças, nos charcos, no chão, nas encostas, nas braças das árvores, quais punhais pendentes apontados à terra cortando o frio que perdurava há semanas. Dois graus negativos, nada mais, era a temperatura que se fazia sentir por estas paragens mas que nem por isso impedia que desde manhã muito cedo as cabritas subissem as encostas ao agrado do ladrar dos cães. A magia do Inverno está em transformar simples gotas de água em flocos de neve que flutuam no ar.
Encontro-me de passagem por Pitões das Júnias, aldeia ancestral das terras de Barroso, um dos exemplos que mostra ser possível uma coabitação pacífica e de respeito entre o Homem e a Natureza.
É quase hora do almoço. Por cima do borralho que não se apaga vão-se aprimorando com o tempo que passa as alheiras e os presuntos pendurados no fumeiro, enquanto que eu tento adivinhar o sabor a que sabem os aromas que emanam dos tachos fervilhantes no fogão.
O melhor do almoço foi a companhia desta gente que me acolhe e partilha comigo a alegria das suas histórias, dos seus dias, mesmo sabendo que não conheço as pessoas sobre quem narram. No entanto conheço-lhes a confiança de horas de companhia que valem por tudo o que não se chega a contar... Apesar de saber não pertencer a este lugar, pertence-lhe de mim uma saudade por nascer, enquanto que o anseio por partir cresce. Até amanhã.
2 comentários:
Caro Ferreira
Apesar de sermos vizinhos e conterraneos os seus posts e o que neles vais escrevendo, desafia-me a curiosidade. Um nosso conterraneo, desafiado por alguns amigos onde me orgulho de pertencer, tinha um conjunto de coisas que foi escrevendo ao longo da sua vida, incluindo muitas viagens. Muito dos seus escritos, poemas em geral, estavam em pedaços de toalhas de papel. Foi publicado um livro a que o autor, assim num de repente deu o nome "a nu". Acho que é isso, quando se escreve, não para "vender" seja que for, mas para ir transmintido aos outros as nossas passagens pela vida...
Abraço (e boas viagens)
Caro Ferreira
Essas pessoas de que fala que não se conhecem, são elas que falam das suas estórias, mas também nos fazem ser ouvidos, sem qualquer interesse ou (frete) e lá vai de vez em quando uns desabafos, é bom existirem pessoas humildes. Boa viagem.
Abraço
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