03/10/2010

Pontos cardeais

A alegria de voltar a um sítio que nos é querido, apraz-nos mesmo antes de aí chegarmos. É  um sentimento de saudade colorido que alberga as sensações e recordações que a dada altura pararam no tempo e por ali ficaram estáticas na nossa memória. 

No entanto, quanto mais o tempo passa menor é a probabilidade de encontrarmos o elo que nos liga a essa saudade. Nas ruas apenas o nome permanece, o resto divide-se entre a imagem degradante dos anos que passaram e a novidade das novas construções que agora vejo pela primeira vez. Ali...havia... acolá era... Os rostos daqueles com quem me cruzo já nada me dizem nem pelo grisalho dos cabelos. Quantas histórias perdi e de quantos fiquei sem saber?  Essas coisas nunca me interessaram senão até agora que vejo a mirrar a esperança de encontrar um ponto cardeal para me situar neste lugar que outrora disse ser meu. 

Ainda tocado pelo choque de ver as minhas expectativas iniciais a esvair-se, reconheço enfim um velho amigo. Voltou por momentos o entusiasmo por  encontrar uma cara conhecida, porém, de imediato vi esse entusiasmo a ser arrefecido pela forma como fui replicado - como se nem sequer nos conhecêssemos. Não chegou a ser sentido como um insulto, visto os anos que passaram, mas senti-me como se subitamente tivesse levado um murro no estômago e, ao abrir os olhos, a ver-me acordar repentinamente num local com o qual já pouco tenho em comum. 

Já é demasiado tarde para recuperar o tempo perdido mas também é ainda demasiado cedo para partir novamente....

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