22/10/2010

Diz-me a verdade

Diz-me a verdade que te tem,
por certo, presa à vida.
Flor gentil e serena:
Serão as tuas pétalas também
lágrimas da minha despedida?

Ou o mar de rosas que te cerca
esconde o teu bem querer
e, por seres tão pequena,
ainda não sentes a perca
de quem te viu nascer?

Custa-me ignorar que te possa doer;
E a dor que sentes é minha também.
Ao largo da vida, o sonho acena.
Tão real quer fazer-me crer
que o mundo é nada e eu sou ninguém.

Se calhar consegue e eu acredito,
embarcando na ânsia de acordar...
Mas talvez já não valha a pena
porque, este mar, sou eu que o agito
e não sei se vale a pena naufragar...

Fecho o envelope e escrevo a morada.
O nexo da vida é maior.
Não é uma carta que me condena.
O sonho é apenas uma fachada.
Ser livre e não réu, é ser-se superior.

Saio e ponho a carta no correio.
Acabo por deitar ao mar a minha esperança
e deixar-me à deriva nesta tarde amena.
O peito, de orgulho,  tenho cheio
e a alma, livre, respirando confiança.

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