09/10/2010

Em jeito de resposta

Este texto começou por ser uma resposta ao comentário deixado por Folha Seca no meu post de ontem. No entanto, uma vez que me alonguei com os pensamentos, decidi publicá-lo na primeira página do blogue.

Fernando Pessoa escreveu, de entre muitos, um poema que é sobejamente conhecido por causa da frase: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. “O Infante” é um dos poemas que compõem o livro “Mensagem” publicado em 1934:

"O INFANTE 

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. 
Deus quis que a terra fosse toda uma, 
Que o mar unisse, já não separasse. 
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente, 
Clareou, correndo, até ao fim do mundo, 
E viu-se a terra inteira, de repente, 
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te portuguez.. 
Do mar e nós em ti nos deu sinal. 
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. 
Senhor, falta cumprir-se Portugal!"

               (Fernando Pessoa, O Infante, in Mensagem)


Ora, os verdadeiros sonhadores partiram à descoberta e uniram o mar e a terra. Eu atrevo-me a dizer que quem deixou o Império desmoronar-se e o sonho/Portugal por cumprir foram os que cá ficaram, porque não conseguiram ser sonhadores e ter visão para chegar mais longe.

No último século, o nosso país descobriu-se em muitas das suas formas e conteúdos: acontecimentos, factos e pessoas. 

O Portugal do início do século XX viveu um clima económico, político e social conturbado. Mal que estava passada a primeira década fez cair a Monarquia seguindo com um e outro período de instabilidade durante a Primeira Republica. Depois, a subida de Salazar ao poder, a instituição do regime ditatorial, a “Primavera Marcelista”, a Revolução dos Cravos a que seguiu outro período de instabilidade política e social, tendo como ponto mais marcante a morte de Sá Carneiro. Um novo ciclo começou com  a entrada de Portugal na CEE e no final da década de noventa observa-se a deterioração das condições económicas do país. 

Mas nem tudo foi mau, vivemos muitas coisas boas e houve muitas pessoas a agarrarem-se aos sonhos para fazer deste país um Portugal melhor. E os "sonhadores" foram aqueles que não dormiram, pois lutaram para ver os seus ideais concretizados.

Porém, no Portugal da actualidade, eu ainda vejo um País por cumprir e com cada vez menos sonhadores... Os que se esforçam são mal-tratados e os que transpiram a incompetência são premiados, dizem, a alguns até com louvores de Estado...

No entanto, eu procuro que isso não afecte os meus sonhos e, ainda que isolado, eu quero acreditar que será possível às gerações futuras obter Educação (com E maiúsculo). 

A Educação é a condição essencial para um Portugal de futuro, com gente qualificada a construir uma economia sólida e uma sociedade menos desigual. Se esse momento vier alguma vez a chegar, Portugal poderá ainda não se concretizar mas estará mais perto do que algumas vez esteve.

Caro R. Manuel, eu dou-lhe razão: embora sonhar seja importante, é vital agir. Mas cabe-nos fazer a mudança e melhorar o que temos. Eu também ainda não sei bem como será possível que os nossos filhos venham a obter a Educação com a qual sonho mas espero convictamente que haja muita gente acordada a trabalhar nos seus ideais.


Obrigado pela visita, volte sempre. 

Ferreira



4 comentários:

folha seca disse...

Caro Ferreira
Embora já esta noite depois de assistir ao concerto do Jorge Palma em leiria, li este seu post "em jeito de resposta" não lhe respondi logo, pois achei que o devia reler novamente, o que fiz agora enquanto espero pelo almoço.
Creio que o unico comentário que posso fazer, é dizer-lhe que concordo com tudo o que escreveu e adorei o poema. Sobre a pedra Filosofal é quase de certeza a canção que mais ouvi a partir dos meus 16 anos, altura em que foi dada a conhecer ao grande publico através daquele execelente programa "ZIP ZIP".
Sim caro Ferreira, apesar de tudo vale a pena contuinuar a sonhar por um mundo mais justo e mais fraterno. O simples facto de o fazer-mos já é uma forma de "agir"
Grande abraço e bom Domingo.

PS: Dada a minha participação no "Largo das calahndreiras" e dada a tradição uso um nickname. O meu nome não é Rui, mas começa de facto por "R" no meu perfil está o meu endereço, terei todo o prazer em dar-me a conhecer se quiser fazer o favor de me mandar o seu.

Flor de Jasmim disse...

Caro Ferreira

Pois é isto de vir visitar seu blogue está sendo inevitável, cada vez que leio o que o Sr.Ferreira escreve fico encantada, o Sr. consegue através da poesia transmitir muito daquilo que me vai alma...a Pedra Filosofal, essa foi uma boa escolha, é uma canção que adoro e ouço á muitos anos, é incansável.

Bom Domingo

Um Abraço

Ferreira, M.S. disse...

Caro Folha Seca
Não era concerteza minha intenção armar-me em Padrinho! Eu tinha ficado erroneamente com a impressão de que o primeiro nome era Rui desde que li o seu primeiro comentário neste blogue– o erro já vem daí! Perdoe-me a disgrafia mas, são coisas que podem acontecer!

A Pedra Filosofal de Manuel Freire é uma música intemporal que jamais poderá ser esquecida.

Fernando Pessoa, ortónimo e heterónimos, merece ser lido. Muito provavelmente hoje se perguntar na rua quem ele foi, dir-lhe-ão certamente que era o jornalista da RTP que acabava as reportagens com: “E esta, hein?”!

Acho que para evitar mal-entendidos (nao vá a Páscoa chegar e vir o senhor pedir-me as amêndoas) utilizarei com muito gosto o seu nick no futuro!

Um abraço e volte sempre

Ferreira

Ferreira, M.S. disse...

Cara Flor de Jasmim,
Fico contente por gostar e por voltar a lê-la novamente.

Votos de uma boa semana e um abraço também para si.

Ferreira