Estou sem tempo porém vejo-me parado
contrariando o momento que passa veloz,
luto contra os segundos, estou desesperado,
quero correr mas estou preso à minha voz
arguo com verdade ao silêncio que se cala
deixando-o estendido e mudo, sem razão
Pago uma mentira para reaver a minha fala
E saio como louco à procura de solução
para esta realidade que afoga os sentidos
e aperta o exíguo espaço que me rodeia,
vejo desintegrar-se a matéria em ruídos
no vácuo liso onde apenas voga uma ideia
e eu vagueio lento contra o meu querer
sou passageiro quando podia conduzir
mas estando atolado sem me poder mexer
passa o tempo que passa e não me deixa ir...
Num instante que dura um pensamento
Acordo por fim, caindo desamparado
Solta-se enfim o fadado movimento
retomo o fôlego e parto apressado
seguindo por terras que nunca me viram
ouvindo cores e sons nunca imaginados
a Primavera das acácias que floriram
e o Inverno dos plátanos desnudados
Em velocidade intensa cruzei o mundo,
naveguei os mares e quis antes de morrer
voltar a casa, voltar à praia, respirar fundo
sentar-me, junto ao mar e ver o dia a nascer
agora pela última vez antes de partir
deixo na areia solta a minha despedida
frases sólidas que a tempo a água irá aluir
palavras, apenas, o sentido de uma vida...
3 comentários:
Caro Ferreira
Mais um poema muito sentido, que nos consegue transmitir muitas vezes o que nos vai na alma.
Excelente.
Abraço
Adélia
Caro Ferreira
Poesia não se comenta. Gosta-se ou não.Mas pode-se complementar. Tenho na minha cabeça esta frase: (não sei de quem) "Há tempo para tudo, até tempo para amar"
Abraço
Cara Flor de Jasmim, Caro Folha Seca
Obrigado a ambos pela crítica.
Quanto à frase que cita, “há tempo para tudo, até tempo para amar”, eu posso subjectivamente interpretar que o narrador deste poema tem noção disso (agora a explicacao demora um bocadinho):
Pelo última quadra subentende-se que o narrador está a morrer. Passa a fazer sentido reler o poema desde o início e compreender a razão pela qual lhe urge o tempo, porque existe algo que ele quer realizar antes de partir: voltar ao lugar que supostamente lhe é mais querido (a praia, a areia, o mar) e ver o dia a nascer, supostamente, pela última vez. Se me é permitido interpretar esse momento de realização como um momento de amor, então encaixa perfeitamente na frase que cita!
Mas dou-lhe razão, a poesia nao se comenta e qualquer interpretação será em todo o caso subjectiva.
Obrigado por voltarem e votos de um Domingo agradável!
Ferreira
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