23/10/2010

Estou sem tempo

Estou sem tempo porém vejo-me parado
contrariando o momento que passa veloz, 
luto contra os segundos, estou desesperado,
quero correr mas estou preso à minha voz  

arguo com verdade ao silêncio que se cala
deixando-o estendido e mudo, sem razão 
Pago uma mentira para reaver a minha fala  
E saio como louco à procura de solução     

para esta realidade que afoga os sentidos
e aperta o exíguo espaço que me rodeia, 
vejo desintegrar-se a matéria em ruídos
no vácuo liso onde apenas voga uma ideia

e eu vagueio lento contra o meu querer
sou passageiro quando podia conduzir
mas estando atolado sem me poder mexer 
passa o tempo que passa e não me deixa ir...

Num instante que dura um pensamento
Acordo por fim, caindo desamparado
Solta-se  enfim o fadado movimento
retomo o fôlego e parto apressado

seguindo por terras que nunca me viram
ouvindo cores  e sons nunca imaginados 
a Primavera das acácias que floriram
e o Inverno dos plátanos desnudados

Em velocidade intensa cruzei o mundo, 
naveguei os mares e quis antes de morrer
voltar a casa, voltar à praia, respirar fundo
sentar-me, junto ao mar e ver o dia a nascer

agora pela última vez antes de partir 
deixo na areia solta a minha despedida 
frases sólidas que a tempo a água irá aluir
palavras, apenas, o sentido de uma vida...

3 comentários:

Flor de Jasmim disse...

Caro Ferreira

Mais um poema muito sentido, que nos consegue transmitir muitas vezes o que nos vai na alma.
Excelente.

Abraço
Adélia

folha seca disse...

Caro Ferreira

Poesia não se comenta. Gosta-se ou não.Mas pode-se complementar. Tenho na minha cabeça esta frase: (não sei de quem) "Há tempo para tudo, até tempo para amar"
Abraço

Ferreira, M.S. disse...

Cara Flor de Jasmim, Caro Folha Seca

Obrigado a ambos pela crítica.

Quanto à frase que cita, “há tempo para tudo, até tempo para amar”, eu posso subjectivamente interpretar que o narrador deste poema tem noção disso (agora a explicacao demora um bocadinho):

Pelo última quadra subentende-se que o narrador está a morrer. Passa a fazer sentido reler o poema desde o início e compreender a razão pela qual lhe urge o tempo, porque existe algo que ele quer realizar antes de partir: voltar ao lugar que supostamente lhe é mais querido (a praia, a areia, o mar) e ver o dia a nascer, supostamente, pela última vez. Se me é permitido interpretar esse momento de realização como um momento de amor, então encaixa perfeitamente na frase que cita!

Mas dou-lhe razão, a poesia nao se comenta e qualquer interpretação será em todo o caso subjectiva.

Obrigado por voltarem e votos de um Domingo agradável!

Ferreira