19/06/2017

À caça de um título e a informação ao metro

Em relação ao incêndio em Pedrogão Grande quero antes de mais apresentar o meu mais profundo respeito para com as vítimas e respectivas famílias.

À distância, sirvo-me do serviços informativos dos vários canais de televisão portugueses (e estrangeiros) para me manter informado. Custa-me, porém, ver o aproveitamento feito pelos media a esta tragédia e é um pouco sobre isso que vou escrever.

Os serviços noticiosos, Telejornais, põem de lado a isenção e a objectividade para se perderem em discursos quilométricos e repetitivos sobre os acontecimentos - em directo.

Há uma vertente emocional? Há, mas o papel dos jornalistas é informar, não é tomar partido.

Sejamos sinceros, ninguém poderia imaginar uma catástrofe destas proporções. Ninguém.

No entanto era observar os jornalistas, como lobos, à procura de de falhas no sistema e de  alguém em quem por as culpas.

Tomados de surpresa, os responsáveis das diferentes entidades governamentais e de segurança foram dando conta do estado de situação de uma forma sensata e responsável. Os meus parabéns para a forma como lidaram com o assunto. Porque ontem, como hoje não é altura de procurar culpados mas de reunir todos os esforços e de procurar estratégias para minimizar os danos. 

E os media não descansaram enquanto não encontraram alguém a quem apontar o dedo - há que vender títulos a todo o custo...

Repetidamente e a cada bloco de reportagem aproveitam a transmissão em directo para debitar os mesmos factos já anteriormente mencionados pelo apresentador no estúdio, como se de uma novidade se tratasse e na primeira pergunta feita a um qualquer entrevistado lá vêm com o enésimo pedido de confirmação do que já anteriormente havia sido dito. Com perguntas irrelevantes vão atrás da primeira pessoa que encontram, sem olhar à carga psicológica da situação. Querem testemunhos para o directo, a qualquer preço. E eu pergunto onde está a informação?

Dentro de um veículo, numa dada entrevista, pergunta a jornalista ao entrevistado se o Presidente da Republica e o Primeiro Ministro deveriam ter feito o mesmo percurso que eles acabavam de fazer para ter uma melhor perspectiva do terreno. A jornalista já com muitos anos de experiência agarra-se à mais básica demagogia para encher a sua reportagem - onde está a objectividade? Em que é que isso poderia ter contribuído no imediato para a minimização de danos?

Outro aspecto que me incomoda é ver os apresentadores dos serviços noticiosos a falarem dos acontecimentos como se estivessem a apresentar concursos. A isenção também passa pelo tom de voz e num momento de dor generalizada, um pouco de racionalidade não teria ficado mal.

As redacções deveriam também ter em atenção que os serviços noticiosos não são telenovelas. Podem por isso dispensar as melodias melancólicas no final das emissões. Para isso já bastam as imagens de devastação e dor. É de muito mau gosto.

Concentrem-se no essencial, na análise dos factos, em vez de descreverem o imediato ao metro para encherem o programa. Se não tiverem nada de construtivo a dizer, mostrar ou ensinar, acabem o programa mais cedo.





1 comentário:

Ferreira, M.S. disse...

E esqueci-me de mencionar o momento clímax de Judite de Sousa ao fazer a sua reportagem junto a um cadáver...