20/06/2017

Ainda os directos...

Até que ponto a "febre dos directos" afecta negativamente o trabalho dos operacionais de combate aos incêndios?

Veja-se: três canais eventualmente com várias equipas de reportagem no terreno e com um ou mais directos por hora... Quantas vezes são interpelados os responsáveis no terreno? Quantas situações em que os repórteres "que estão ali a fazer o seu trabalho" mas não são mais do que um empecilho para quem tem realmente uma função essencial para a resolução do problema?

Outro assunto:
Será que vale tudo para fazer informação?

Onde está a objectividade quando os comentadores-repórter passam a apelar aos sentimentos das vítimas para vender uns minutos de televisão?

Será realmente necessário falar com o maio número de sobreviventes e contar o seu relato? Não será já doloroso o suficiente para estas pessoas terem perdido familiares e bens? Será necessário descrever os casos daqueles que tomaram decisões que vieram a mostrar-se ser as erradas? Como o repórter que relata o caso de um cidadão que tomou a decisão errada de mandar embora a sua família para os por a salvo... Conseguem imaginar a carga emocional que este sobrevivente está a passar neste momento?

Que informação relevante nos dá uma reportagem em directo quando o repórter se limita a estar no local e a debitar factos conhecidos e normalmente sobejamente repetidos pelo apresentador do noticiário?

Com a "febre dos directos", até que ponto o que é notícia deixa realmente de ser notícia?

Já observaram que passámos a ver os acontecimentos em tempo real.
Pergunto -  mas será que a notícia está lá? Ou apenas relegamos a nossa condição de espectador para passar a ser "mirone" à espera que algo aconteça?

E o papel do comentador de serviço? Uma espécie de papagaio que se limita a repetir lugares comuns para preencher o tempo? Ou pior, quando não são lugares comuns ficamos a saber o aspecto dos objectos circundantes. Por exemplo, quando José Sócrates estava prestes a ser libertado pela primeira vez, a comentadora falou insistentemente no "portão verde" por onde iria passar o antigo Primeiro Ministro. Deve ter ficado o portão verde mais célebre de toda a história da televisão.

Noutras palavras para evitar o "silêncio" em televisão recorre-se a artimanhas para fazer o telespectador um refém da acção momentânea, sejam elas apelar à piedade, à comoção, ao sentimento; ao repetir de lugares comuns e com isso massacrar o telespectador pela milésima vez, por exemplo, com a informação de que estes incêndios tiveram origem numa trovoada seca... ou ao repetir factos que ridicularizam o próprio locutor, como o caso do portão verde...

Fica uma dica para os três canais de informação. Há mais território para além de Portugal onde também há notícias todos os dias. Algumas delas, vejam só, até são positivas e de carácter construtivo. Porém, possivelmente isso não vos interessa porque não vende tão bem como o mal dos outros...



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