26/02/2010

Estrelas cadentes

Como pedras saltitando no lago, vão caindo estrelas ao luar enquanto a escuridão que grassa se vai despedindo e dizendo adeus. No ar fica uma sensação de abandono...
Mas quem foi embora? A noite ou as estrelas?

22/02/2010

Antes de partir II - para o meu pequeno

Goteja.
O mel que transborda a luz da manhã adoça levemente a brisa que te envolve, tu em teus braços e eu junto de ti. Beijo-te outra vez antes de partir.

Há dias terríveis

Fartei-me de procurar em quantas bibliotecas estive, por um livro de sossêgo que me acalmasse – o Estado do Mundo deixa-me nervoso. Não tinham. Fui à mercearia procurar silêncio aos pacotinhos, daquele que se toma ao pequeno almoço, mas estava esgotado. Ainda entrei no café para comprar um maço de repouso – tinham acabado de vender o último a outro cliente. Hoje, de facto, não é o meu dia de sorte...

21/02/2010

Estória de Embalar

Plo nascer da alvura
assobiando aos cães pla calada
descendo ao monte pla frescura
de Imagem à cintura
João, fazia-se à estrada

Tinha alma de poeta, mas era caçador
E contava, como gostava, sem pudor:
Ainda outro dia,
mal a alvorada tinha despertado,
pum! pum! dois tiros, de Invocação
Ò Sorte! Foi logo uma Comparação!

Qual Anástrofe, quais quês?
Campo adentro, campo fora,
carregava novamente na espingarda
as palavras que apontava aos versos,
ao longe, no prado, dispersos
e sem nem mais nem porquês
disparava: Pum! Pum! outra vez!
Era mais uma Onomatopeia,
que longe da alcateia,
fugia da Metáfora parda!

Gabava-se ainda com safadez,
que só de uma assentada,
sem esforço algum matava três
e com plena arte, com pleno estilo,
de copo erguido, garrafa na mão
Qual hipérbole ou comparação,
era Antítese pra vender ao quilo!

Ah João, João,
Ardesse na garganta o guisado
Bebias água e não abafado!

20/02/2010

Voto de pesar

O meu Respeito pelas vítimas resultantes da intempérie que se abateu sobre o Arquipélago da Madeira.

A Força da Natureza não precisa de justificação e é uma das coisas que o Homem jamais poderá controlar.

Aos que ficam e aos que lá estão para prestar auxílio, coragem.

19/02/2010

Prazeres da vida

Gosto de São Pedro, o fim de dia na praia em tarde quente de Verão, enquanto o sol se apaga lentamente no infinito. São momentos...

18/02/2010

Antes de partir







Ouço as sombras que discutem ao anoitecer.
Estardal
haçam argumentos
como cerejas que se comem à boca cheia.

N
ão fora a chuva que ameaçava cair
Ficaria sem voz, a velha,
que esquecera a roupa no estendal.

E o sossego volta a ser t
ão grande
que me recosto a ver as estrelas
junto à muralha do castelo.

Aproveito o momento antes de partir...

Silêncios e entretantos

Entre o tanto tempo que dura um silêncio
perde-se a palavra que ficou por dizer
E enquanto entretanto outras vozes sussurram
entende-se o momento, ganha-se o tempo
e desdobra-se a Razão.

17/02/2010

Ao sabor do vento

Entrei mar adentro como que sôfrego de beber
Esqueci por instantes o desasossego e parei
no bater de uma onda como que se de um suspiro se tratasse,
sublimado pelo sol deixei-me embalar
ao sabor do vento
enquanto a corrente me puxava para mais logo
o momento não voltar

16/02/2010

Momentos


Mais uma vez ao final de tarde enquanto o sol se preparava para desaparecer além do horizonte, sabendo que o mar se esconde por detrás do que a vista alcança, sentei-me à soleira da porta enquanto bebericava um copo gelado de groselha.

O anoitecer vinha finalmente refrescar o calor infernal da tarde e o chilreio vivo dos bandos de melros no infinito azul.

Não muito longe, ao fundo, quilómetros e quilómetros de pinhal onde a luz do sol mal penetrara estendiam o tapete à noite que teimava em chegar.

Lentamente, o ar tornara-se agradavelmente respirável e o copo de groselha chegara ao fim...

Ninguém me obriga a criar um texto...

O Tempo é Constante e o Espaço é Inerte
- enfim, um lugar comum -
mas nós movemos montanhas,
nós continuamos e seguimos em frente
porque o nosso destino é esse mesmo - obrigar as montanhas a mudar de lugar.
Quando o Destino do Homem depende da sua experiência,
por que lado começa a Razão?
A Batalha que move a pobreza de espírito é a sobrevivência
e a decadente resistência à tona da água.
Não compactuo com inverdades.
Se alguém me obrigar a criar um texto, não o farei -
sou e serei independente na minha existência
e se escrevo tão simplesmente é para comunicar.
Amanhã o dia será igual ao de Hoje,
mas a montanha já não estará lá...