18/05/2014

parece-me que...

as eleições europeias estão à porta... já repararam? quando no dia 25 formos votar, estarão a eleger os novos deputados europeus, ou seja os novos representantes nacionais para as instituições europeias... eu sei que isto é senso comum mas eu tenho impressão que se tem procurado desviar a atenção das responsabilidades de alguns partidos / responsáveis políticos...

uma coisa que me espanta primeiro é o facto de a troika do CDS, PSD e meios de comunicação social continuarem a bater no Sócrates... haja homem por trás do político para aguentar estas pachachas...  outra coisa que me espanta é o ver o Bloco e o PCP - dia após dia - a continuar a alimentar a aversão do seu eleitorado ao Partido Socialista...se por um lado é cada qual por si - cada partido tem interesse em eleger o seu candidato, por outro lado, esta posição branqueia, a responsabilidade do actual governo pela situação em que nos encontramos e que é bem mais grave - repito, bem mais grave - do que aquela em que o país se encontrava há três anos. Desde então o país tem vindo a ser saqueado continuamente, a EDP, os CTT... depois a carris/ sctp...deve ser por serem "gorduras do estado".... as empresas que faliram, os postos de trabalho que se extinguiram, as bolsas de estudo que se anularam, os programas de pesquisa que foram cancelados, a mão-de-obra que deixou o país... então e assuntos desta natureza? não é grave? foi o PS?  também deve ter sido por causa dos sócrates?  Tenho impressão que a essa esquerda falta visão. Só visão. A estratégia, certa ou errada, está lá.

o que me preocupa também nesta cisão desejada por esses partidos da esquerda tem a ver com os indecisos ou com aqueles que perderam o gosto em ir votar. este tipo fractura à esquerda (na minha modesta opinião) pode levar eleitores a votar em branco ou a votar nulo. Mas o pior que pode acontecer é os eleitores ficarem em casa e não irem votar para as eleições que serão determinantes para o país no contexto europeu dos próximos anos! E com essas falácias, a esquerda dá um tiro no pé...

sim, o PS acaba de apresentar uma alternativa para as linhas do actual governo em período eleitoral. Se pode ser reprovável pelo momento escolhido? Talvez, até possa mas não esqueçamos que foi a estratégia mais certeira para resfriar os festejos da direita relativamente ao final do programa de ajustamento da troika... e alegro-me saber que já há um partido em Portugal com uma alternativa ao actual governo.

mas voltemos à vaca fria, o que está em causa daqui por uma semana são as eleições europeias e quem para lá for terá mais poder para decidir se portugal continuará na mão de sanguessugas ou na mão de alguém com tomates para resolver estes diferendos económicos e devolver aos Estados Europeus a soberania económica que os bancos privados têm vindo a cartelizar.

há que dar a volta a estas tendências.vão votar.




11/05/2014

Da desunião europeia (e nacional)

Depois de ler a entrevista do Público a Philippe Legrain, houve várias coisas que me deixaram a pensar.
Primeiro, aqui ficam alguns momentos:

(Legrain:) "É preciso lembrar que na altura havia três franceses na liderança do Banco Central Europeu (BCE) – Jean-Claude Trichet – do FMI – Dominique Strauss-Kahn – e de França – Nicolas Sarkozy. Estes três franceses quiseram limitar as perdas dos bancos franceses. E Angela Merkel, que estava inicialmente muito relutante em quebrar a regra do “no bailout”, acabou por se deixar convencer por causa do lobby dos bancos alemães e da persuasão dos três franceses." (...)

"troika (de credores da zona euro e FMI) que desempenhou um papel quase colonial, imperial, e sem qualquer controlo democrático, não agiu no interesse europeu mas, de facto, no interesse dos credores de Portugal. E pior que tudo, impondo as políticas erradas." (...)

"Portugal está mais endividado que antes por causa do programa, e a dívida privada não caiu. Portugal está mesmo em pior estado do que estava no início do programa." (...)

"A UE sempre funcionou com a Alemanha integrada nas instituições europeias, mas aqui, a Alemanha tentou redesenhar a Europa no seu próprio interesse. É por isso que temos uma Alemanha quase-hegemónica, o que é muito destrutivo." (...)

"Pensa que isso foi uma decisão tomada conscientemente por Angela Merkel?
Os erros vieram todos da violação da regra do “no bailout”. Merkel tem a seu favor o facto de ter atrasado durante muito tempo [a ajuda à Grécia]. Penso que ela não queria violar a regra do “no bailout”. Só que foi convencida a fazê-lo pelos três franceses e pelos bancos alemães, que disseram todos que seria irresponsável deixar a Grécia entrar em default. E, por causa deste erro fatal, de repente os contribuintes alemães sentem que são responsáveis pelas dívidas de todos os outros países. Por isso, a resposta natural dos alemães foi dizerem que querem maior controlo sobre os orçamentos e políticas económicas dos outros. Este foi o erro crasso. Transformou a natureza da UE, que passou de uma comunidade voluntária entre iguais para esta relação hierárquica entre credores exercendo o seu controlo sobre os devedores. " (...)

"Então para si, a crise do euro foi antes de mais uma crise bancária mal gerida....
Foi. É antes de mais uma crise bancária."Se olhar para Portugal, o principal problema era a dívida privada. Antes da crise, a dívida pública era sensivelmente a mesma que na Alemanha – 67/68% do PIB – mas o grande problema que não foi de todo resolvido era a dívida privada que estava acima de 200% do PIB. (...)

"Os bancos deveriam ter sido reestruturados e a dívida do sector privado deveria ter sido resolvida. Nas empresas, através de procedimentos de insolvência do FMI que lhes permite continuar a funcionar enquanto a dívida é reduzida. Para os consumidores, com reduções de dívida a partir do momento em que os bancos reconhecem as perdas e as incluem nos balanços. Se isto tivesse sido feito, a trajectória da dívida pública portuguesa poderia ter permanecido sustentável, porque o sector bancário estaria a funcionar, a dívida privada seria inferior e por isso haveria mais crédito para investimento e maior consumo. Mas por causa dos erros feitos Portugal está numa situação difícil."(...)

  "Ao mesmo tempo, se olharmos para a economia subjacente, há agora um crescimento do PIB positivo, mas a inflação caiu tanto que o crescimento nominal do PIB é muito, muito baixo. E é muito difícil sair de uma dívida gigantesca quando se tem um crescimento nominal do PIB muito baixo. Por isso, na ausência de inflação, é preciso reestruturar a dívida." (...)

"Mas pelo menos parte da dívida pública foi assumida para salvar dívida privada, incluindo dos bancos, portugueses e alemães. O que significa que são os contribuintes portugueses que estão a pagar para salvar esses bancos?
Sim, é verdade." (...)

"Mas é preciso, sim, uma reforma institucional para fazer a zona euro funcionar melhor no futuro. E, a esse respeito, penso que é preciso ter um mecanismo verdadeiramente independente de resolução dos bancos, porque o actual não é. É preciso que o papel do BCE enquanto credor de último recurso dos governos seja tornado permanente em vez do actual mecanismo temporário e condicional [OMT]. Terceiro, é preciso restaurar a regra do “no bailout”. E é preciso dar aos Governos muito mais liberdade e flexibilidade para contrair crédito e para gastar – para isso, é preciso deitar fora o Tratado orçamental – embora prevendo, em última análise, a possibilidade de default. Esta é a disciplina. Os Governos e os mercados têm de saber que há o risco dedefault. A longo prazo, será preciso criar um tesouro da zona euro, com algum poder de tributação fiscal e de contrair crédito, que responda democraticamente perante o Parlamento Europeu e os parlamentos nacionais."(...)

"Olli Rehn e os seus altos funcionários decretam que o desemprego vai ser 12% mas se afinal é 20%, dizem “ah, ok, temos de mudar aqui este número na folha de cálculo”. Ou seja, não estão a lidar com a realidade. Esta instituição é uma redoma completamente desligada da realidade. 
Estas mesmas pessoas vão continuar a mandar nas nossas vidas...."(...)

In Publico Online "http://www.publico.pt/economia/noticia/ajudas-a-portugal-e-grecia-foram-resgates-aos-bancos-alemaes-1635405?page=1#follow"



Ou seja:
- Estamos onde estamos por arrogância e desinteresse dos mais altos dirigentes europeus;
- A máquina financeira europeia nunca funcionou bem e continuará a não funcionar por vontade colectiva da comunidade política europeia 
- Merkel podia ter travado esta corrida desenfreada de ajudas aos bancos que prejudicou sobretudo os países do Sul da Europa; e
- Depois destes anos, ainda não há plano B para sair colectivamente desta situação negativa em que nos encontramos.  
- Observo colateralmente o seguinte: de acordo com o que li, o principal problema de Portugal antes do início desta crise era a dívida privada. A dívida pública não representava algum problema porque estava controlada. Ora o que o actual governo tem vindo a fazer desde que foi eleito foi vender os activos estatais mais atractivos (EDP, CTT, TAP, ...) enquanto se apressa a assumir dívidas privadas - BPN, agora parece também a Carris e a STCP... conseguem ver o alcance destas artimanhas?
- Apesar dos maus negócios do anterior governo, ainda hoje me pergunto se não teria sido muito mais sensato o PCP e o BE terem deixado Sócrates implementar o PEC IV e com isso poder ter outra atitude de negociação perante a Troika.

Em suma, estamos entregues à bicharada - lá fora e cá dentro. E agora? Para onde vamos? As eleições europeias estão aí e em Portugal a direita continua a tirar benefício da fractura à esquerda "ampliada" pela comunicação social...As coisas não estão fáceis mas tenho impressão que vão continuar a não ficar melhores...